segunda-feira, 9 de abril de 2018

Amigos das Letras


Amigos das Letras


Numa cidadezinha longínqua e esquecida pela humanidade moravam dois jovens que eram amigos ainda quando crianças, a vida continuou seu curso e eles cresceram cada um com sua beleza ímpar além de uma forte corrente literária e romântica... A primeira carta entre eles surgiu:

Estou aqui só
Mas em boa companhia
Troco um beijo pela poesia
Na bela manha de sol...

Todo caminho não é uma reta e qualquer surpresa na próxima esquina nos espreita. Emily e Felício além de ótimos filhos e bons amigos gostavam de construir juntos belos trabalhos poéticos. Naquela linda e pacata cidade a comunicação ainda era olho no olho, as horas tinha asas nos minutos próximos quando os dois estavam juntos. No entanto, uma linda tarde de um dia perdido na história o Felício recebeu um telegrama convidando-o para um recital na capital junto aos nobres e ilustres mestres da poesia regional. A alegria não precisa dizer que foi geral nas duas famílias, enfim um jovem de uma pequena cidade estaria pisando em solo de grande prestígio. Logicamente a ida de Emily estava confirmada também, sua fiel e amada companheira de versos compartilhando esse momento inesquecível. O mais belo de todos os dias havia chegado na hora exata do tempo e as malas há muito prontas com vestimentas e uma cabeça cheia de estrofes. Toda cidade participou da despedida dos jovens que prometeram as suas famílias na volta outro memorável acontecimento, o enlace matrimonial.

O trem partiu para capital ao som da banda municipal, lenços acenavam até a locomotiva dos sonhos sumir na longa curva. Algumas horas depois a rádio local anunciava em noticiário extraordinário o descarrilamento de um sonho partido por obra do destino... O município parou, o silêncio tomou conta de toda esquina e lágrimas inundaram corações partidos. No dia do sepultamento até o sol amanheceu frio e a vida parecia não querer continuar com saudade do casal e suas poesias. Todavia sentimento gerado no conforto do amor verdadeiro não se perde no cair da noite infinita. A alma pura cria caminhos alternativos e toda lembrança se alcança na estrada da memória eterna. Emily e Felício não conseguiram concluir a passagem devido à forte saudade que a cidade natalícia emanava e preocupados com o novo destino inevitável, pensaram que poderiam transformar aquelas lágrimas em flores e a saudade em reminiscências presentes em cada coração nostálgico sem perder o brilho mágico da partida e escolheram um poeta como mediador de suas palavras rimadas, as quais seriam perpetuadas em livros de contos de amor incondicional.

Assim no caminho da Verdadeira Vida escolheram um amigo das letras e dele o fez mensageiro da vida invisível...

Amigos das Letras

Somos voláteis até mesmo a própria essência
Partimos com alegria e afago no coração
Não existe canção que defina a frequência
Da comunicação... O Adeus jamais será prisão.

Estaremos nesse ar que se respira
A vida não se perde na luz ponte
O dolente sentimento mudará
Novos versos na insistente presente
Que no amanhã surgirá...

Agora iremos partir rumo ao desconhecido
Deixando aqui na alegria desses versos
Um abraço fraterno no coração amigo
Na certeza do reencontro no imensurável
Universo.

Novamente a cidade parou para ouvir e reconhecer aquele conjunto de composições poéticas. Então cada tristeza se transformou em louvor ao incomensurável amor incondicional. Novas alvoradas apareceram e a cidade que antes era tão longe do coração da capital tornou-se arquétipo vivo da eterna união.

Fernando Matos
Poeta Pernambucano


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