quinta-feira, 8 de agosto de 2019

O Corpo


O Corpo


Era apenas mais um corpo pela cidade
Caminhando sob o forte sol quente
Sem muita idade vagava mansamente
Olhando as pessoas e essas mesmas
Sem notar mais um corpo pela rua
Sem vida, o triste viver da realidade
Nua e crua...
Chegou a tarde e o astro rei ainda mais quente
Fazia com que muita gente se abrigasse
Em lojas ou ricos estabelecimentos bancários
Contudo aquele corpo caminhava solitário
Triste e amargurado, pois quem tem fome
Esquece até o próprio nome e sobrenome
Sem a devida labuta sentia-se na absoluta
Estrada sem luz, escuridão que nada conduz...
Chegou à noite e o frio da maresia veio igual
A um açoite e sentiu-se crucificado numa cruz
Com a alma desprovida de tempo onde nada
Existe e tudo enquanto matéria persiste
Em fazer sofrer...
Aquele corpo com frio, sede e faminto
Encontrou na madrugada um banco de praça
Para dormir, mas não tem graça relaxar
Ao relento e não ter o sorriso da família
Que todos contemplam no abraço das esposas
Dos rebentos sorridentes e felizes por ter
Um teto, enquanto o telhado daquele corpo
Era o espaço infinito e cheios pontos luminosos
Fechou os olhos e numa respiração profunda
Adormeceu e quando o novo dia amanheceu
Estava morto aquele corpo que andou pela
Cidade e ninguém para o seu rosto olhou
O que mudou na estrada da humanidade
Além da maldade do seu silêncio?
Tudo bem era apenas mais um corpo...


Fernando Matos
Poeta Pernambucano


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