Tradução do poema Forgotten Whispers (Fernando Matos)
Sussurros esquecidos
Para aqueles que caíram em batalha,
Levantamos um grito de tristeza,
Sob um céu em chamas,
Em uma paisagem destruída.
Onde as balas silenciaram,
E os sonhos foram esquecidos.
Nos braços do abandono,
Suas vozes se perderam,
E as histórias foram apagadas
Como páginas atrozes.
Cinzas permaneceram na mente,
Em corações tão ferozes.
Na terra que antes era viva,
O tempo não corre mais,
Os fantasmas ainda caminham
Em uma dor que não pode ser expressa.
A infância se transformou em saudade
Na mais cruel das promessas.
Crianças órfãs chorando
Sem uma canção de ninar,
Sem o beijo de sua mãe,
Apenas a noite sangrando.
Elas têm o medo como amigo,
E a escuridão para viver.
Ó misericórdia infinita,
Desça agora do altar,
Sobre a infância dilacerada
Que não pudemos curar.
São sementes de tristeza
Que insistem em germinar.
Às mulheres que ainda esperam
Pela vida em meio ao terror,
Que seus ventres sejam luz,
Um abrigo acolhedor de amor.
Mesmo entre os escombros frios,
A fé brota com fervor.
Que o perdão seja a coroa
Desta gravidez ferida.
Que o amor seja um escudo
Na esperança renascida.
E que a paz tome os caminhos
Desta terra consumida.
Às mães que ficaram sozinhas,
Nos cantos da solidão,
Às irmãs e companheiras,
Nossa canção, nossa oração.
Que a guerra largue seu aço
E se transforme em compaixão.
Que os reis se ajoelhem,
E as armas sejam destruídas.
Que os tiranos sejam cinzas
E os povos se abracem.
Que a justiça se levante
E a dor seja aliviada.
Ó guerra, criatura vil,
Ladra de ternura e risos,
Você bebe da nossa dor
E empobrece nosso julgamento.
Você deixa lágrimas no chão
E vergonha no aviso.
Mas ainda há aqueles que resistem,
Aqueles que rezam à luz de velas,
Poetas que ainda escrevem,
Cantores que se revelam.
Em cada verso um protesto,
Em cada canção, uma estrela.
Para aqueles que sangraram nesta terra,
Que o amor seja uma ponte.
Que cada ferida aberta
Seja curada no amanhecer da montanha.
E que a última esperança
Seja mantida na fonte.
Para aqueles que foram silenciados
Sem voz, sem despedida,
Que os anjos tragam seus nomes
E os resgatem para a vida.
Das chamas e dos horrores,
Liberte todas as feridas.
Que as armas se tornem enxadas,
E os tronos, berços de flores.
Que os carros se tornem árvores,
E o amor caminhe livre.
Que a paz se torne uma estrada
E desfaça toda a dor.
Para todas as almas esquecidas,
Escrevemos esta canção,
Pois elas viveram seus dias, sim,
Mesmo em condições adversas.
Elas morreram com as mãos vazias,
Mas cheias de compaixão.
Sem espada, sem escudo,
Mas lutando para viver.
Que a justiça as reconheça
E as traga de volta à vida.
Que o riso supere os tambores
E o jardim cresça.
Que o ódio não nos domine,
Nem o medo nos convença.
Que aqueles que sonharam com a paz
Encontrem o amor como recompensa.
E que o céu leve embora a dor
Com sua doce presença.
Que a chuva lave os telhados
Das viúvas sem abrigo,
E que cada lágrima
Seja lembrada e sentida.
Se o mundo ousar esquecer,
A poesia clama pela vida!
Pois a caneta é mais poderosa
Do que a espada do opressor.
A memória é uma chama viva,
É a guardiã do amor.
Antes que percamos tudo,
Que o redentor brilhe.
Ó guerra, cessai a vossa marcha
Antes que seja tarde demais.
Que a honra não seja uma ferida
Nem se transforme num desafio
A missão de ser humano
Em um legado tão vazio.
Que a paz se torne o caminho
E o amor, nossa canção.
Antes que a alma se perca
Nas brasas da escuridão.
Sejamos a voz da esperança,
Humanos de coração!
Fernando Matos
Poeta Pernambucano.