quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

O Alquimista do Natal.

 O Alquimista do Natal


Houve um tempo em que a harmonia reinava entre o céu e o firmamento. Nesse período, todos puderam obter lucros financeiros e prosperar com o conhecimento. O Vale das Estrelas reunia grandes vidas humanas da educação, da justiça, do âmbito da saúde, das artes em geral e da literatura. Enfim, em tudo nesse local havia o aroma da sabedoria, e as virtudes humanas eram o propósito de todo morador do vale: Prudência, Justiça, Temperança, Coragem, Fé, Esperança e Caridade. No entanto, nada como uma provação universal para fundamentar que o sal da vida precisa ser temperado e testado entre os homens.


Um certo indivíduo, vestindo roupas estranhas e de comportamento duvidoso, chegou repentinamente ao Vale das Estrelas. Trazia na bagagem o desejo de se igualar ao Criador do Universo: almejava obter todos os bens do mundo só para si, regozijava-se com a tristeza alheia, fazia mau uso da sexualidade, comia em demasia e o seu desperdício de comida era notado por todos. Além de não reconhecer sua pequenez, não praticava a caridade, o que era um insulto para os moradores daquela localidade. Não havia saúde mental naquela pessoa.


Na vida, todos têm seguidores, e com ele não foi diferente; a cidade ficou dividida. Com isso, resolveram segregar a população em cores diferentes. Essa atitude deixou um certo clima negativo na região e os moradores passaram a ficar reclusos, sem direito à comunicação; perderam amizades por conta de uma falsa ideologia.


Todavia, nem todos foram contaminados por essa insensatez. Havia neste vale um morador muito conhecido por todos, a quem deram a alcunha de “Alquimista”. Ele ficou sabendo do ocorrido e, para preservar sua saúde mental, passou a trabalhar à noite e de madrugada, descansando apenas no período da manhã de cada novo dia. Por dias, estudou o novo comportamento dos moradores de sua cidade e percebeu que, durante a noite, muitas lágrimas caíam dessas pobres almas, perdidas na ilusão da escuridão.


Então, resolveu secretamente recolher cada pingo dessas lágrimas sem ser notado. Passou a ter como objetivo descobrir um remédio universal contra essa doença social que assolava a sua querida e amada cidade natal. Foram noites de intenso trabalho transformador, até que, no meio de uma madrugada, ele gritou com toda a força de seu espírito: — Eureca! Aquele brado acordou a todos que, preocupados, foram ver o que ocorria de tão grave, mas só encontraram o silêncio da escuridão. Voltaram a dormir em seus pesadelos noturnos.


O Alquimista pegou sua descoberta e foi colocar aquela poção na caixa-d’água do Vale das Estrelas, sem ninguém perceber. Um novo dia surgiu e todos beberam daquela água, banharam-se nela e aguaram seus jardins, sem notar que suas vidas estavam sendo mudadas. De fato, mudaram; é como se abrissem os olhos para um novo mundo dentro do universo em que viviam. Aquele cidadão de modos estranhos nada gostou das mudanças e foi embora do Vale das Estrelas.


Todos voltaram a viver em harmonia, como deveria ser, mas uma criança foi até o Alquimista e lhe perguntou como tudo aquilo poderia acontecer da noite para o dia. A resposta foi direta: — Meu jovem, eles provaram de suas próprias verdades. A Verdade pode mudar tudo e todos. A Verdade não reside no brilho do que é aparente, mas no silêncio que resta quando as ilusões se calam; ela é o fardo que liberta e o espelho que não mente, o único solo firme onde os passos da alma não falham. Ainda digo mais: a Verdade é tudo aquilo que está contra o seu desejo, mas que muda completamente a nossa vida...


Fernando Matos

Poeta Pernambucano.

Dr h.c. em Arte e Poesia.

Dr h.c. em Comunicação Social.



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